quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Na minha mais profunda Solidão...

Aquela imagem toca, está viva e em movimento… Dela saem milhares de sons que se transformam numa bela mas macabra melodia saída das teclas de um piano assombrado. É uma imagem sombria portanto; uma imagem do meu Mundo, do meu ser… A minha alma dentro dela é a que toca e se passeia a correr ou a andar por ente a folhagem das heras que trepam e tentam vestir as arvores despidas, assim como cobrem o chão; também vagueia naquele palácio vazio, deserto de algum tipo de vida…
A solidão é assim um refúgio, uma paisagem… será?
O nevoeiro não deixa ver com clareza tal resposta, as palavras flutuam com ele e ecoam quando batem nas paredes robustas, maciças, pesadas, impenetráveis… frias! Sinto-me confusa, mas a melodia continua, o tom aumenta para o grave e ouve-se uma voz. És tu quem canta com a música.
De repente, vem o silêncio, um silêncio ensurdecedor quebrado pelo som dos teus passos tão pesados.
A minha alma foge de ti, mas eu permaneço quieta sentada ao piano. Errado, eu não, ela! A minha alma! Afinal sou eu quem foge com medo… sou eu, porque fecho o livro rapidamente e tremendo, o atiro contra a parede, com receio que a tua visita seja real, com medo de voltar a sentir a tua presença, a ver o teu rosto mármore, os teus olhos esculpidos de um negro tão profundo e as tuas asas gigantescas, desumanas, impiedosas e petrificantes, que de novo me farão parar e me envolverão cruel e insensivelmente, fazendo-me de novo tua, sem fuga possível para o meu silencio, para o meu livro refugio… para a minha querida Solidão!

A resposta afinal é clara:
A solidão retida por alguns momentos,
Afinal é uma paisagem
E está presa na nossa mente,
Presa nas profundezas dos nossos olhos,
No espelho da nossa alma
Que se reflecte pelo seu brilho e cor,
A essa chamamos a nossa aura
Invisível a certos olhos…

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Boneca de Porcelana

“O que é isso ai? Isso que te tapa a cara?” perguntei com a tua voz sem mexer os lábios, observando somente o invisível, quando a tua boca que não conseguia ver, me respondeu, com os olhos negros visíveis a brilhar, que não era nada que eu necessita-se aprofundar.
Eu posso mexer-me, falar e sentir tal como tu, mas nem desconfias. Finges a minha voz para te sentires bem e sabes perfeitamente que o que tens na cara é uma mascara que formaste para que ninguém visse o estado em que estás.
Acabei agora de estudar-te e depois de ver o que os outros vêem, reparei que tens a cara desfeita em lágrimas, transformada numa lastimável emoção de perda que ninguém gosta. Alguém te feriu… É a tua cor quem o diz.
Afinal não te olhei com o mesmo olhar que eles olharam e olham constantemente. Esse, o visível, é a única maneira possível para eles de ver, mas para mim não, ainda existe esta e outras mais…
Com o meu abraço no teu, enroscaste-te de maneira a poderes simplesmente sentir que estás segura, esmagando-me literalmente contra o teu peito. Apesar de saberes que estou aqui e que não posso nem quero sair, teimas na mesma saudação para a dor e a saudade, acabando por me molhares as roupas com as tuas lágrimas.
E agora deitadas, frente a frente, olhos nos olhos, estou a ver a tua alma a fugir, a correr para longe… O teu olhar a vidrar e tu a perder a força, a vida… adormeceste. Eu fecho os olhos e finjo fazer o mesmo. Sim, finjo…porque sei que tenho de tomar conta de ti enquanto dormes, porque sou a tua bela boneca de porcelana que tanto estimas e tratas, que acolhes, penteias e vestes à tua semelhança.
 
Tu não sabes,
Mas sou mais que uma boneca...
Sou o teu anjo, a tua alma, a tua sombra…
E acima de tudo a tua máscara.
Tu nem desconfias...
Foto tirada por mim :)